Essa menina de 16 anos que sofreu essa barbárie, infelizmente não será a última a ter vivido algo assim. Infelizmente não será a última a ser ignorada por alguns veículos de notícia, e infelizmente o caso dela não será o último em que algumas pessoas tentam criar justificativas para o injustificável.
Afirmações como a de Barbosa Filho servem para justificar o injustificável e são muito utilizadas tanto pelos agressores, quanto pelas próprias vítimas, que têm dificuldade em se reconhecer como tais.
Em um debate sobre gênero e política, Assucena explicou que as travestis são vistas como seres da meia noite e que colocar a cara no sol é uma revolução. Que cada vez mais o Sol e os holofotes estejam virados para mulheres como ela. A revolução, amigos, é trans e negra.
Não se trata de ensinar meninas e mulheres a terem mais cautela, zelo e recato, mas sim que meninos e homens sejam educados a respeitá-las, independentemente da circunstância em que se encontrem. Só assim parece ser possível acabar com a banalização dessa violência, por quem a comete e pela sociedade que observa passiva ou culpando a vítima. A educação pode ser a chave para transformação da "cultura do estupro" em uma realidade de respeito e equidade de gêneros.
O tema do consumo inapropriado de pornografia pela Internet precisa ser debatido. A omissão dos pais e da escola, que se recusam a discutir esses problemas com seriedade, é co-responsável por todas as violências contra a mulher decorrentes dessa cultura.
Se nossas referências são os outros, sempre vamos encontrar alguém que fez mais em algum aspecto. Nosso olhar tende a se desviar do que fazemos de bom e focar no que deixamos de fazer. Cabe a você valorizar seu esforço e dedicação.
Não foi apenas seu choro angustiado e cheio de medo que motivou a escrever aquelas hesitantes palavras na minha "timeline". Foi principalmente sua desconcertante resposta quando perguntei o que poderia fazer para acalmá-la: "Rodrigo, eu quero a sua sensibilidade". Prosseguirei tentando, meu anjo.
A menina estuprada pelo bando nos autoriza a ignorar a sensibilidade dos homens pacíficos aos corpos das mulheres. A eles, pedimos que não se ofendam por usarmos o genérico "os homens estupram mulheres". A eles, pedimos que não venham com relativismos tolos de que o crime de estupro não tem sexo. A eles, pedimos que subvertam pensamentos, comportamentos e linguagens para que possam garantir o direito à vida das mulheres.
Cresci ouvindo que mulher tinha que se vestir de um jeito e não de outro. Que não podia rebolar muito. Que vestido curto era coisa de puta. Que dependendo da minha atitude, da minha roupa a noite, eu estaria pedindo pra ser estuprada. Que assobios e gritos de "gostosa" de homens na rua, era coisa boa, que deveria me deixar com a autoestima no topo. Que "mulher que dá na primeira noite" é puta. Que "puta não merece respeito". Que se eu for estuprada, "a culpa é minha por causa da roupa, do horário ou de onde eu estava".
Em meio a isso tudo, tenho inúmeras dúvidas e uma só certeza: nós todos que nos preocupamos com questões humanitárias, com a defesa de valores relacionados à noção de "direitos humanos", precisamos urgentemente desenvolver modos empáticos de dialogar, juntos, contra o horror.
E se você não acha isso ou, pior, acha que isso é exagero e que o mundo está cada dia mais chato, desculpe, você não combate a cultura do estupro e acabou de ganhar um adversário.
Entre as medidas que chamaram atenção esteve o rebaixamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres, que perdeu seu peso de Ministério. Já seria preocupação o suficiente, ainda mais considerando que as outras Pastas são todas chefiadas por homens brancos, mas o presidente interino mostrou que sempre pode piorar e indicou a ex-deputada Fátima Pelaes para chefiar a Secretaria daqui para a frente.
Ouvi pessoas dizendo que aquilo era amor, que o namorado não sabia viver sem ela, como se aquilo tudo fosse justificável. Não justifica tirar a vida de alguém ou invadir o espaço de outro ser em nome de falsos sentimentos, até mesmo porque isso seria a ideia de posse. Não somos objetos para ter donos, somos pessoas.
Um caso como este faz lembrar quem somos e o caminho longo que temos. Não vamos nos calar. Vamos falar até por aquelas que não podem falar por si mesmas. Vamos renascer em cada gesto, em cada lágrima. Somos mais bonitas quando ficamos juntas. E quando ficamos com raiva.
Nós imaginamos como seria esse mundo só com cantadas feministas, ou quase isso. Homens desejando direitos iguais e respeito para as mulheres, elogiando o batom vermelho. Ou apenas ficar quietinho para não incomodar ninguém. Seria o mundo perfeito?
Se é para celebrarmos alguma coisa nesta data, vamos então celebrar o fato de que mulheres e meninas estão, cada vez mais, sentindo-se confortáveis para carregar a toalha. Vamos comemorar que estamos conseguindo uma representação cada vez mais presente e positiva, que estamos sendo escutadas. Sempre mantendo em mente que precisamos ir mais além, que ainda vai ser um caminho difícil, mas que vamos fazê-lo juntas.